Muitos pais, na tentativa de proteger os filhos dos males que consideram invasivos, estão exagerando na dose e criando crianças amedrontadas e despreparadas para a vida

A violência (seja ela urbana ou doméstica) é uma das grandes vilãs que têm levado muitos pais exagerarem nos cuidados e na proteção de seus filhos. Nunca se falou tanto dos males que a chamada superproteção pode trazer às crianças. Isso porque eliminar do desenvolvimento dos pequenos todo e qualquer tipo de desconforto e decepção, segundo o escritor Carl Honoré, em seu livro Sob Pressão – Criança Nenhuma Merece Superpais, é um erro gravíssimo, que forma cidadãos inaptos a enfrentarem situações de desafios, entenderem seus limites e serem capazes de superar as dificuldades da vida. A verdade é que os pais de hoje estão encarando seus filhos como joias raras. E, assim, acreditam que têm a obrigação de protegê-los de todo mal – ainda que o mal, em si, não exista. Proibir que a criança brinque no parque por medo de que se machuque ou impedir que o filho durma na casa do amigo, acreditando que ele ainda não tem capacidade de desenvolver tarefas para as quais, na realidade, ele está apto, são atitudes que têm despertado a atenção de especialistas no mundo todo, já que têm criado uma geração insegura com as vivências diárias. Nos Estados Unidos, tem-se observado que muitas crianças apresentam medo de ir sozinha ao banheiro ou de brincar no pátio da escola, fortalecendo a ideia de que a superproteção paterna cria baixa autoestima, insegurança e ansiedade nos filhos.

Embora, aparentemente, uma criança sob constante vigilância de seus pais esteja mais segura, na prática, impedir que ela crie seus próprios mecanismos de defesa impede que cresça e amadureça. Sem contar a formação de pessoas mimadas e os riscos que existem quando essa criança finalmente decidir livrar-se da bolha paterna: as chances de ela querer experimentar tudo aquilo a que foi “protegida” serão muito maiores. As consequências da infância superprotegida já podem ser vistas a olho nu: jovens estão demorando cada vez mais para sair da casa dos pais, para entrar no mercado de trabalho e para encontrar seu real caminho – aquilo que lhe dê felicidade.

Portanto, é preciso compreender que toda criança só será capaz de prosperar e não se frustrar diante dos percalços da vida se tiver permissão para dirigir sua própria existência, construindo sua autoconfiança e preocupando-se com os outros.

O mal da superproteção
Talvez você não saiba, mas o excesso de cuidados tende a criar crianças problemáticas. As principais consequências são:
• Medo: sem desafios e riscos, a criança não tem a chance de experimentar novas sensações e, diante de acontecimentos inesperados e novos, ela se retrai.
• Manha: com excesso de zelo, a criança tende a ser a “rainha” da casa. Em outras situações, como na escola, em que deixa de ser o centro, ela chora e faz birras.
• Insegurança: sem conhecer seus limites, a criança não se sente segura para agir caso seus pais não estejam por perto para dar-lhe a aprovação.
• Dependência: por não ter a chance de descobrir suas capacidades, ela acredita não ser capaz de fazer as coisas sem seus pais.
• Impaciência: por ser sempre protegida e atendida prontamente pelos pais, ela quer que todos hajam da mesma maneira, não sabendo esperar a hora certa.

Incentive a autonomia
Confira as dicas para você estimular a independência do seu filho em cada faixa etária.

De 0 a 3 anos
É comum, nessa fase, a criança se negar, por exemplo, a emprestar seus brinquedos ao colega. Cabe a você, então, conversar com seu filho, para que ele próprio tenha a iniciativa de ceder. Não entregue o brinquedo você para a outra a criança, pois seu filho tem de aprender a negociar.

De 4 a 5 anos
Incentive a autonomia dele deixando-o que guarde seus brinquedos, escolha as próprias roupas, escove os dentes e tome banho sozinho. Você precisa, apenas, supervisionar para ter a certeza de que tudo foi feito corretamente. O mesmo vale para as tarefas domésticas: que tal convida-lo para ajudar você a varrer a casa?

Depois dos 6 anos
É tarefa da criança, a partir dessa idade, arrumar o material escolar e preparar a mochila. Você deve supervisionar.

Cuidado!
Atente-se para não cometer esses erros:
• Controlar e vigiar seu filho 24 horas por dia – errado: isso impede que ele se torne um adulto seguro.
• Fazer todas as vontades da criança, para superar o pouco tempo que você tem com ela – errado: qualidade é sempre melhor do que quantidade (lembre-se disso).
• Impedir que ela aprenda a negociar – errado: ela não aprenderá a dividir.
• Não ensinar a dividir suas coisas – errado: faz que, futuramente, ela se torne um adulto individualista.
• Não permitir que ela faça escolhas – errado: ela crescerá entendendo que as escolhas são perdas, e não diferentes caminhos a trilhar.

Texto escrito por Tatiana Arcolini, mãe do aluno Luca Caramico