O aprendizado de uma segunda língua traz vantagens que vão além do benefício mais que óbvio de permitir a comunicação em outro idioma. Novas pesquisas mostram que pessoas bilíngües têm, em média, maior capacidade de concentração quando jovens e menos sintomas de demência ao envelhecer. Esses estudos, muitos deles inspirados em experimentos da lingüística canadense. Ellen Bialystok têm aliviado a consciência de pais que receiam expor as crianças a ambientes com duas línguas.

Nos Estados Unidos, por exemplo, é comum imigrantes “esconderem” dos filhos da língua natal, para que as crianças aprendam o inglês mais rapidamente. Um dos estudos mais recentes do grupo Bialystok revela, porém, que jovens nutridos num ambiente bilíngüe se saem melhor em tarefas que exigem atenção, memória rápida, capacidade analítica e flexibilidade de idéias.

“Não é que se tornem mais inteligentes. A diferença é que pessoas bilíngües desenvolvem capacidade de concentrar sua atenção em um objetivo imediato sem se deixar incomodar por ruídos ou outras informações que as distraiam”, diz Gigi Luk, lingüística da Universidade Harvard, de Cambridge (EUA).

Esse benefício, afirmam os lingüistas, acaba se mostrando de uma forma inesperada. Como o segundo dá ás crianças uma consciência maior sobre estrutura lingüística, algumas delas passam a dominar melhor a gramática de primeira língua.

Barbara Pearson, lingüística que realizou boa parte de seus trabalhos em Miami – cidade onde o espanhol é moeda corrente ao lado do inglês – afirma que crianças que crescem em ambientes bilíngües passam a enxergar antes dos monolíngües as propriedades formais e estruturais da língua. “Como o fato de que palavras consistem de silabas e sons”. Isso, segundo ela, dá ás crianças uma importante ferramenta para desenvolver suas habilidades de raciocínio.

DA MENTE AO CÉREBRO

Para alguns, pesquisadores, os benefícios da exposição á segunda língua ocorrem ainda mais cedo. Barbara Conboy, lingüística da Universidade de Redlands (EUA), realizou neste ano um experimento para medir a capacidade de discernimento entre fonemas de inglês, monitorando a atividade cerebral de bebês. Durante um período de dois meses antes e depois dos testes, os cérebros dos bebês se tornaram mais eficientes em processar inglês. Luk, que participou de vários dos experimentos de Bialystok, investiga o efeito do bilingüismo mapeando o cérebro de voluntários. Usando uma maquina de ressonância magnética, ela diz estar conseguindo enxergar que o bilingüismo ajuda adultos mais velhos a preservar estruturas de “matéria branca”, o tecido responsável por manter as conexões entre neurônios.

Em um estudo que ainda não foi publicado, Luk reúne evidencias físicas de um efeito que vem sendo mostrado pelas pesquisas de Bialystok desde 2004. Investigando a literatura médica, a cientista descobriu que idosos bilíngües conseguem adiar o aparecimento de sintomas do mal de Alzheimer em cinco ou seis anos. “Usar uma língua para aprender outra é um bom plano pedagógico“ Barbara Pearson lingüística da Universidade de Massachuetts (EUA).

Aprendizado de outra língua pede presença dos pais

Os benéficos cognitivos de uma criança aprender outra língua são notáveis, mas isso costuma exigir atenção e um esforço extra dos pais, muitos pais compram jogos e livros infantis em outra língua para ajudar no aprendizado dos filhos. Esse tipo de atenção é essencial, principalmente quando as línguas têm sistemas de escrita diferentes, como acontece com o japonês em relação o português.

Até em famílias em que o aprendizado é natural, quando marido e mulher têm nacionalidades diferentes, é necessário cuidado para que os filhos não abandonem uma das línguas. Barbara Pearson, lingüista que hoje leciona na Universidade de Massachusetts, afirma que o ensino concomitante das duas línguas é mais recomendável nesses casos, quando não se pode evitar o bilingüismo dentro do lar. Ela ressalta que o ensino de duas línguas, que pode ser trabalhoso para os pais, está bem longe de ser um fardo para as crianças.
“A maior parte das evidências científicas indica que usar uma língua para aprender outra é um bom plano pedagógico.“ (RG)